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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Como a manipulação de resultados está destruindo o futebol

Declan Hill
Jornalista e autor do livro "Máfia no Futebol"
Atualizado em  5 de fevereiro, 2013 - 18:47 (Brasília)
Nós todos ouvimos as notícias da chocante entrevista coletiva da Europol (a polícia da União Europeia), na segunda-feira, na qual foram revelados detalhes de centenas de partidas de futebol que tiveram seus resultados manipulados.

Não foi nenhuma surpresa. No entanto, toda essa agitação gera um importante questionamento: por que as revelações estão sendo feitas agora?
O que está acontecendo no futebol internacional – na verdade, em muitos outros esportes – para que, de uma hora para outra, nós estejamos ouvindo essa conversa sobre manipulação de resultados?
Manipulação e corrupção no esporte têm uma longa história. Se você fosse ao local das antigas Olimpíadas, na Grécia, você encontraria, fora das ruínas do estádio, destroços de estátuas de Deuses.
Essas estátuas eram pagas por atletas e técnicos que eram flagrados trapaceando.
A corrupção nos esportes remonta a pelo menos 2,8 mil anos, e sempre haverá algum tipo de corrupção enquanto houver esportes de competição. É simplesmente parte da natureza humana.
No entanto, a nossa geração está diante de algo inteiramente novo. É como se alguém tivesse injetado esteroides na antiga manipulação de resultados.
É um fenômeno completamente moderno que, se não for combatido devidamente, vai destruir muitos esportes.
Essa nova forma de corrupção irá, como uma tsunami, varrer todas as outras questões e deixar alguns esportes mortos e destruídos.
A chave para a nova forma de manipulação é a globalização. Nos últimos dez anos, o mercado de apostas em esportes passou por profundas transformações, assim como as indústrias de música e de turismo.
Agora, os apostadores em qualquer lugar do mundo podem apostar em praticamente qualquer partida de qualquer esporte profissional em praticamente qualquer país.
Isso significa que o mercado de apostas da Ásia, que é muito maior do que o europeu ou o americano, têm grandes somas de dinheiro para apostar em jogos pequenos.
Mercado bilionário
Na coletiva de imprensa, a Europol disse que a maior quantia apostada em um dos jogos manipulados foi de 121 mil libras (cerca de R$ 377 mil).
Isso não é nada. O mercado de apostas asiático é medido em bilhões de dólares. Pessoas que atuam dentro desse mercado, manipulando resultados, destruíram boa parte do mundo esportivo nesse continente, e agora estão voltando sua atenção para outros países.
Há entre 20 e 30 dessas pessoas que viajam o mundo manipulando eventos esportivos. Eles formam alianças com criminosos locais, que por sua vez conseguem formar conexões com jogadores, juízes e cartolas corruptos.
Os criminosos asiáticos conseguem manipular o mercado de apostas ao fazer suas apostas de maneira que ninguém suspeite de que os jogos são manipulados. Desta maneira, há uma rede de corrupção que se espalha quase que literalmente pelo mundo.
Essas pessoas operam na Ásia, África, América Latina, América do Norte e, principalmente, Europa.
Há agora uma série de ligas gravemente afetadas que se movem lentamente em direção ao Ocidente, atravessando a Europa. Países como Bulgária, Polônia ou Hungria foram fortemente afetados. Poucos torcedores de futebol nesses países veem seu esporte com algum grau de credibilidade.
Mas este não é um fenômeno exclusivo de países que antigamente adotavam o comunismo.
Turquia, Grécia, Itália, Alemanha, Bélgica, Suíça, Áustria e Finlândia já tiveram escândalos envolvendo a manipulação de partidas. No último verão europeu, a Noruega enfrentou o problema pela primeira vez, quando houve partidas suspeitas em sua terceira divisão.
Uma liga não-corrupta é como o mito do navio que não afunda. Não existe. Sempre haverá, como os gregos antigos sabiam, algum risco de corrupção.
Janela de oportunidade
As ligas de futebol têm uma pequena janela de oportunidade para se organizarem para lutar contra essa nova forma de corrupção.
Os cartolas devem começar a implementar novas medidas para evitar o problema. Uma medida seria a adoção de um programa preventivo, adequado e com recursos, visando jogadores e técnicos.
Apostar é parte da cultura de muitos jovens jogadores e alguns deles arriscam, e perdem, uma enorme parcela de seus salários.
As associações de futebol precisam oferecer aconselhamento sobre o problema das apostas e estabelecer uma cláusula nos contratos dos jogadores que permita a eles buscar ajuda para comportamentos compulsivos sem que isso prejudique seu sucesso profissional.
Eles precisam acrescentar a isso uma linha de telefone para que se possa denunciar de forma anônima tentativas de corrupção.
Se as associações de futebol implementarem essas reformas, elas terão uma boa chance de combater a forma moderna de manipulação de resultados. Caso contrário, o futebol poderá ser atingido por mais escândalos.
Fonte:BBC Brasil

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