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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

"Black blocs": saída para a violência política?

Corremos o risco de caminhar para uma violência política cada vez mais incontrolável
As repercussões da agressão sofrida pelo coronel da Polícia Militar Reynaldo Simões Rossi, durante manifestação em São Paulo, na noite de sexta-feira, e a entrevista nas Páginas Azuis do O POVO do sociólogo português Boaventura Sousa dos Santos, ontem, são dois temas interligados e que têm tudo a ver com o futuro próximo do Brasil. Ambos ensejam a oportunidade de uma reflexão sobre os desafios enfrentados pelo Brasil, na presente conjuntura histórica.
A agressão ao militar foi atribuída aos “black blocs”, um grupo de militantes políticos supostamente anarquista (no sentido de não aceitar nenhuma forma de poder político institucionalizado) e que tem feito uso da violência, desvirtuando manifestações pacíficas de rua com a tática de provocar enfrentamentos com a Polícia e destruir o patrimônio público e o privado. A natureza de sua composição é polêmica, mas, desconfia-se de que – no mínimo – está sendo manipulado inconscientemente por forças interessadas em provocar uma intervenção militar em nome da “restauração da ordem”.

De qualquer forma, o fenômeno remete-nos à crise do atual modelo institucional da democracia representativa, que não está conseguindo responder às demandas de participação dos cidadãos (organizados ou não), abrindo espaço para a erupção de atores (manipulados ou não) sem qualquer compromisso com as regras do regime democrático. Não só o caso da agressão, em si, do militar (repudiada pela opinião pública e pela presidente Dilma Rousseff), mas a própria tática dos “black blocs” é rejeitada pela quase totalidade da opinião pública (conforme revelam as pesquisas) e têm contribuído para a diminuição da participação popular nas manifestações.
É aí que entra uma das observações do sociólogo Boaventura ao O POVO. Depois de reconhecer os avanços do processo social brasileiro, frisou que o Brasil “não abriu espaço para a democracia participativa”. E acrescentou: “Os indignados na Espanha e em Portugal querem o mesmo: uma democracia real. Querem ser incluídos politicamente”.
Sem isso, certamente, corremos o risco de caminhar para uma violência política cada vez mais incontrolável. Eis por que essa deveria ser a discussão central, nesta véspera de campanha eleitoral para 2014: como implantar a democracia participativa no Brasil.
Fonte: O Povo
Black bloc
Black bloc (do inglês black, negro; bloc, agrupamento de pessoas para uma ação conjunta ou propósito comum, diferentemente de block: bloco sólido de matéria inerte) é o nome dado a uma tática de ação direta, de corte anarquista, caracterizada pela ação de grupos de afinidade mascarados e vestidos de preto que se reúnem para protestar em manifestações de rua, utilizando-se da propaganda pela ação para desafiar o establishment e as forças da ordem. Esses grupos são estruturas efêmeras, informais, não hierárquicas e descentralizadas. Unidos, adquirem força suficiente para confrontar a polícia, bem como atacar e destruir propriedades públicas e privadas.
As roupas e máscaras pretas, que dão nome à tática, visam garantir o anonimato dos indivíduos participantes, caracterizando-os, em conjunto, como um único e imenso bloco.
Black Blocs diferenciam-se de outros grupos anticapitalistas por frequentemente realizarem ataques à propriedade privada, como forma de chamar a atenção para sua oposição ao que consideram símbolos do capitalismo, às corporações multinacionais e aos governos que as apoiam. Um exemplo desse tipo de ação foi a destruição das fachadas de lojas e escritórios do McDonald's, da Starbucks, da Fidelity Investments e outras instalações de grandes empresas no centro de Seattle, em 1999, durante as manifestações contra a conferência de ministros de países integrantes da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Equívocos
Existe um entendimento, difundido principalmente pelas grandes redes comerciais de comunicação de massa, segundo o qual o Black bloc seria uma organização internacional. No entanto, isso é um equívoco: Black Bloc não é uma organização mas uma tática utilizada por vários grupos anticapitalistas, que não mantêm muitas conexões entre si. Pode haver vários grupos black bloc dentro de uma única manifestação, com diferentes formas e táticas. Na mesma manifestação, podem formar-se diversos blocos negros, com diferentes objetivos e táticas. Esses blocos podem até mesmo entrar em confronto, a exemplo do que ocorreu nos protestos contra o G8, em Gênova, 2001,5 e em Québec, 2007, quando policiais se infiltraram entre os Black Bloc.
Ideologia
Os grupos Black Bloc se constituem principalmente de anarquistas e integrantes de movimentos afins (anticapitalistas e anti-globalização), que se organizam em conjunto para determinada ação de protesto. O objetivo pode variar em cada caso, mas, em termos gerais, trata-se de expressar solidariedade diante da ação repressiva do Estado e de veicular uma crítica, segundo a perspectiva anarquista, acerca do objeto do protesto no momento.
"Não somos violentos, jamais atacamos pessoas", protestam os "veteranos" do bloco. "Não é violência destruir os símbolos do capitalismo selvagem, da exploração, da globalização" - lojas, caixas automáticos, carros de luxo. Nunca andam armados. Objetos simples, muitas vezes encontrados pelo caminho, são transformados em armas improvisadas (pedras, extintores de incêndio, placas de trânsito, vergalhões de aço encontrados em canteiros de obras). O importante é ser imprevisível, incontrolável e visível apenas no breve momento da ação, graças à inconfundível máscara e às roupas pretas.
História
A expressão Schwarzer Block nasce no início dos anos 1980 na Alemanha. Foi de fato utilizada pela primeira vez por parte da polícia alemã para identificar os Autonomen (similares aos Autonomi italianos, que se situavam na área da esquerda extraparlamentar, mas com uma substancial diferença quanto ao uso de táticas violentas) que, durante as manifestações e passeatas antinucleares e em favor da Rote Armee Fraktion, geralmente usavam roupas e máscaras negras para que o conjunto dos manifestantes formasse uma massa compacta e bem identificável, seja para parecerem numericamente superiores, seja para atraírem a solidariedade e a ajuda de outros grupos ideologicamente afins, durante as manifestações. As máscaras e os gorros ou capacetes têm a função de proteger os membros do grupo e ao mesmo tempo impedir a identificação dos participantes, por parte da polícia.
Black Bloc em protesto anti-UE
A mesma denominação foi posteriormente utilizada em inglês - Black Bloc - nos Estados Unidos, durante as manifestações contra o Pentágono (1988) e durante os protestos contra a Primeira Guerra do Golfo (1991). Outras aparições significativas dos Black Bloc ocorreram em Seattle (30 de novembro a 4 de dezembro de 1999) durante as manifestações contra a conferência de ministros dos países membros da OMC, em Praga (26 a 28 de setembro de 1999), quando a cidade foi ocupada durante a reunião dos países membros do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. O Black Bloc também apareceu em Gotemburgo (14 e 15 de junho de 2001) nas manifestações contra o Conselho Europeu.9 Em Gênova (20 de julho de 2001), durante a cúpula do G8, as manifestações destruíram partes da capital da Ligúria. Na época, houve suspeitas de que grupos Black Block estivessem atuando como provocadores, em cumplicidade com a polícia. Mais tarde, ficou claro que havia policiais infiltrados nos grupos. Além disso, os Black Bloc foram criticados por outros ativistas, por provocarem uma violenta reação da polícia, o que, além de inviabilizar as manifestações pacíficas de diferentes organizações, resultou na morte do jovem Carlo Giuliani, por um policial. Em Québec (20 de abril de 2007) durante a cúpula das Américas, os Black Bloc destruíram as redes metálicas que protegiam o local da reunião. Tais redes haviam sido definidas pelos manifestantes como o muro da vergonha. Em 2009, a City, o centro financeiro de Londres, foi transformada em praça de guerra durante os protestos contra a reunião do G-20. A tropa de choque tentou dispersar os manifestantes, e um homem acabou morto. Em todas as ocasiões, o padrão das ações dos Black Bloc basicamente se repete. No Rio de Janeiro e em São Paulo, em 2013,13 não foi diferente: enfrentaram a polícia com paus e pedras, quebraram vitrines de lojas e bancos (que consideram símbolos do capitalismo), fizeram barricadas incendiando lixeiras, destruíram veículos (principalmente carros da polícia).
Em alguns casos, porém, a reação policial às ações do Black Bloc pode ser muito mais violenta. Em Gênova (2001), depois de atirar e passar duas vezes por cima do corpo de Carlo Giuliani com um carro, a polícia realizou, na noite do dia seguinte, 21 de julho, um ataque ao complexo de escolas A. Diaz. No local, funcionavam a coordenação do Genoa Social Forum ("Fórum Social de Gênova") e a sala de imprensa da Indymedia, além de um dormitório improvisado. O motivo da invasão teria sido a suspeita de que lá haveria integrantes do Black Bloc. Na sequência, os policiais passaram a espancar brutalmente todos os que se encontravam no prédio. Ao final, 93 pessoas foram presas; 61 foram feridas e levadas a hospitais, três das quais em estado grave e uma (o jornalista britânico Mark Covell) em estado de coma. Posteriormente, 125 policiais foram indiciados pelas agressões. O episódio foi tema do filme Diaz - Don't Clean Up This Blood (em português, Diaz - Não limpe esse sangue), de Daniele Vicari.
Referências
Peasant Revolt’ - N30 Black Bloc Communique. ACME Collective (A communique from one section of the Black Bloc: N30 in Seattle). In VAN DEUSEN, David; MASSOT, Xaviar (ed.). The Black Bloc Papers - An Anthology of Primary Texts From The North American Anarchist Black Bloc 1988-2005. The Battle of Seattle Through The Anti-War Movement, p.42
Infoshop.org Autonomia and the Origin of the Black Bloc
A agência Reuters se referiu a "algo em torno de 2.000 militantes conhecidos como o 'black block' [sic]". "German organizers condemn violence at anti-G8 demos". Reuters, 3 de junho de 2007.
a b K, 2001, "Being black block". In On Fire: The Battle of Genoa and the Anti-capitalist movement, p. 31-5. London: One Off Press, 2001.
a b Strana violenza: se il potere ha paura, scatena i black bloc
Manifestazione in Québec, agosto 2007
Black Blocs for Dummies
German autonomen: morality police Louis Proyect: The Unrepentant Marxist.
Gothenburg Riots: An Eye witness Reports
A ordem liberal e a baixaria. A manobra do governo italiano, permitindo que fossem devastados bairros inteiros de Gênova, visava a responsabilizar pela violência centenas de organizações não violentas. A tentativa fracassou, mas o preço foi alto: um morto e 600 feridos... Por Susan George. Biblioteca Diplô, agosto de 2001
A Personal Account of the G8 Demonstrations in Genoa July 2001
GENOVA G8: Há 10 anos, o mundo assistia ao "inferno". Radio Italiana.
O Black Bloc está na rua. Nem grupo nem movimento, essa tática de guerrilha urbana anticapitalista pegou carona nos protestos atuais. Como esse fenômeno pode impactar o Brasil. Por Piero Locatelli e Willian Vieira. Carta Capital, 21 de agosto de 2013.
Davos, Londres, Praga, Gotemburgo: protestos explodem no rastro de Seattle. Ação do grupo Black Bloc foi semelhante ao que acontece agora nos protestos no Brasil. O Globo, 11 de outubro de 2013.
Diaz-choc, l’agente: la polizia si decida a chiedere scusa. Libre idee, 17 de abril de 2012
L'incubo della Diaz, botte calci e sangue. ANSA, 10 de julho de 2011.
G8, Fournier: Sembrava una macelleria. La Repubblica, 13 de junho de 2007.
Gênova-G8 - O julgamento dos acontecimentos da Escola Diaz. Mídia independente, 18 de maio de 2006.
The Genova G8 Diaz trial - Chilean night. Por Oscar Beard. Indymedia 21 de janeiro de 2006
Sobre o filme Diaz – Não limpe esse sangue (2012)Leitura complementar
Albertani, Claudio. (2002). "PAINT IT BLACK: Black blocs, Tute Bianche et Zapatistes dans le mouvement antimondialisation". Les Temps Maudits (12).
Dupuis-Déri, Francis. (2010). "The Black Blocs Ten Years after Seattle: Anarchism, Direct Action, and Deliberative Practices". Journal for the Study of Radicalism 4 (2): 45–82. ISSN 1930-1189.
Gautney, Heather. (September 2009). "Between Anarchism and Autonomist Marxism". Working USA 12 (3): 467–487.
Graeber, David. Direct Action: An Ethnography. Oakland: AK Press, 2009. ISBN 978-1904859796
Graeber, David. (9 February 2012). "Concerning the Violent Peace-Police: An Open Letter to Chris Hedges". n+1.
Katsiaficas, George. The Subversion of Politics: European Social Movements and the Decolonization of Everyday Life. Oakland and Edinburgh: AK Press, 2006.
The Black Bloc Papers: An Anthology of Primary Texts From The North American Anarchist Black Bloc 1988-2005, por Xavier Massot & David Van Deusen, Breaking Glass Press
Black Blocs and Contemporary Propaganda of the Deed, por Jeff Shantz
Neither Washington Nor Stowe: Common Sense For The Working Vermonter, por David Van Deusen e Green Mountain Anarchist Collective, Catamount Tavern Press.

Fonte: Wikipédia

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