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segunda-feira, 24 de março de 2014

A indiferença política das pessoas (ŽIŽEK)

“A indiferença política das pessoas
A democracia liberal multipartidária “representa” uma visão muito precisa da vida social na qual a política se organiza em partidos que competem por meio de eleições para exercer o controle sobre o estado legislativo e o aparato executivo etc. Deve-se sempre estar ciente de que essa “moldura transcendental” nunca é neutra – ela privilegia certos valores e práticas.
Essa não neutralidade torna-se palpável nos momentos de crise ou indiferença, quando experimentamos a incapacidade do sistema democrático de captar o que as pessoas de fato querem ou pensam – essa incapacidade foi demonstrada por fenômenos anômalos como as eleições britânicas de 2005: apesar da crescente impopularidade de Tony Blair (ele era constantemente eleito a pessoa mais impopular do Reino Unido), não houve meio de esse descontentamento encontrar uma expressão política efetiva.
Havia algo de obviamente problemático nesse caso – não que as pessoas “não soubessem o que queriam”, mas, antes, a resignação cínica as impediu de agir de acordo com essa vontade, de modo que o resultado foi o estranho desencontro entre o que as pessoas pensavam e como elas agiram (votaram).
Já Platão, em sua crítica à democracia, mostrava-se totalmente ciente desse segundo tipo de corrupção; e essa crítica também é claramente discernível no favorecimento jacobino da Virtude: na democracia no sentido de representação e negociação da pluralidade de interesses privados, não há espaço para a Virtude. É por esse motivo que, na revolução proletária, a democracia tem de ser substituída pela ditadura do proletariado.”

(ŽIŽEK, Slavoj. Democracia corrompida - O potencial autêntico da democracia vem perdendo terreno hoje para a ascensão de um novo capitalismo autoritário. In. Dossiê CULT: A democracia e seus impasses, julho, 2012. p. 54)

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