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quarta-feira, 19 de março de 2014

O legado repressivo da copa na África do Sul: 36 mortos e 78 feridos em greve

Apesar do “fim” do regime racista do apartheid na África do Sul desde 1994, no dia 16 de agosto de 2012 todo o mundo viu através das câmeras o fuzilamento de trabalhadores da empresa britânica Lonmin. Estes trabalhadores estavam em greve desde o dia 10 de agosto em uma mina localizada na cidade Marikana, de onde a Lonmin extrai 96% da platina que exporta para o mundo. 
Durante os cinco dias de mobilizações que antecederam o massacre, a governista N.U.M (União Nacional dos Mineiros) se esforçava para desmobilizar os trabalhadores e acabar com greve, enquanto a ascendente Associação dos Mineiros e Trabalhadores da Construção (A.M.C.U, fundada por dissidentes da N.U.M) se posicionou a favor da greve e atuou pela conquista da pauta reivindicativa. Tal divergência causou muitos confrontos entre os associados das duas forças e serviu de pretexto para a intervenção policial durante os piquetes, resultando em oito mineiros mortos e dois policiais justiçados.
As reivindicações dos mineiros giravam em torno de melhores condições de trabalho, aumento salarial e exigiam o fim da relação trabalhista de semiescravidão que é imposta através de vigilância armada e muita punição. Após o massacre, 270 mineiros foram presos acusados pelo assassinato de seus próprios companheiros, pois foram enquadrados em uma lei da época do apartheid que responsabiliza todos os envolvidos em uma manifestação por qualquer morte ocorrida durante a mesma. Somente após forte pressão social a acusação de homicídio foi retirada e parte dos trabalhadores foram libertados sem pagar fiança, mas devem se apresentar à Justiça em fevereiro de 2013.
O massacre ocorreu dois anos após a Copa do Mundo, que prometia um legado de desenvolvimento e diminuição da desigualdade social. Porém, o que se vê na África do Sul é um abismo social onde existem ilhas privadas de segurança e luxo que contrastam com a miséria dos guetos. Foram gastos bilhões em construção de estádios que hoje estão inutilizados, pois a manutenção é milionária e enquanto isso a população sai às ruas por direitos essenciais como saneamento, água potável e emprego. O desemprego atinge 25% da população e em localidades da capital, como em Soweto (reduto negro e símbolo da resistência ao apartheid), o índice de desemprego chega aos alarmantes 48%. O único legado que a classe trabalhadora herdou dos investimentos públicos para realização da Copa do Mundo foi uma polícia bem armada para defender os interesses da burguesia nacional e internacional, assassinando e controlando os trabalhadores que ousam lutar por direitos básicos, e que custaram U$ 115 milhões para os cofres públicos. Já a burguesia e os governantes herdaram da Copa segurança, enriquecimento ilícito e aumento patrimonial.

No Brasil, a indústria de segurança está em plena ascensão, impulsionada pelos altos investimentos nos megaeventos (sobretudo Copa e Olimpíadas). A Security Industry Association (SIA) estima que o setor faturará até 2017 cerca de R$ 3,7 bilhões de reais tirados do povo e que serão usados contra o povo. A aprovação do uso do exército para reprimir manifestações e greves durante os megaeventos pelo governo brasileiro já indica que a classe trabalhadora haverá de passar por um período de repressão extrema contra as mobilizações populares, assim como passam nossos irmãos africanos.
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Fonte: UNIPA (2012)

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