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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Reflexão: Como unir os diversos movimentos sociais (David Harvey)

“A quarta tendência geral é constituída por todos os movimentos sociais que não surjam por alguma filosofia política ou inclinação em especial, mas pela necessidade pragmática de resistir a deslocamentos e desapropriações (por meio da gentrificação[1], do desenvolvimento industrial, da construção de barragens, da privatização da água, do desmantelamento dos serviços sociais e oportunidades educacionais públicas e outros). Nesse caso, o enfoque na vida diária na cidade, vila, aldeia ou outro local fornece uma base material para a organização política contra as ameaças que as políticas de Estado e de interesses capitalistas, invariavelmente, representam para as populações vulneráveis.
Novamente, há uma vasta gama de movimentos sociais desse tipo, alguns dos quais podem tornar-se radicalizados ao longo do tempo na medida em que eles, cada vez mais, percebem que os problemas são sistêmicos e não particulares ou locais. A junção de tais movimentos sociais em alianças da terra (como o movimento dos sem terra no Brasil ou a mobilização de camponeses contra a tomada de terra e recursos por corporações capitalistas na Índia) ou em contextos urbanos (os movimentos de direito à cidade no Brasil e agora nos Estados Unidos) indica que o caminho está aberto para a criação de alianças mais amplas para discutir e enfrentar as forças sistêmicas que sustentam as particularidades da gentrificação, da construção de barragens, da privatização e outros. Mais pragmáticos, em vez de impulsionados por preconceitos ideológicos, esses movimentos, no entanto, podem chegar a uma compreensão sistêmica gerada por suas próprias experiências. Na medida em que muitos deles existem no mesmo espaço, como dentro da metrópole, eles podem (como supostamente aconteceu com os operários nas fases iniciais da revolução industrial) se reunir em torno de uma causa comum e começar a estabelecer, com base na sua própria experiência, a consciência de como o capitalismo funciona e o que pode ser feito coletivamente.”[2]




[1] Chama-se gentrificação, uma tradução literal do inglês "gentrification", que não consta nos dicionários de português, o fenômeno que afeta uma região ou bairro pela alteração das dinâmicas da composição do local, tal como novos pontos comerciais ou construção de novos edifícios, valorizando a região e afetando a população de baixa renda local. Tal valorização é seguida de um aumento de custos de bens e serviços, dificultando a permanência de antigos moradores de renda insuficiente para sua manutenção no local cuja realidade foi alterada. (Lesley Williams Reid and Robert M. Adelman, Georgia State University  - April 2003. The Double-edged Sword of Gentrification in Atlanta. American Sociological Association. / Benjamin Grant - June 17, 2003. PBS Documentaries with a point of view: What is Gentrification?. Public Broadcasting Service)
[2] HARVEY, David. O Enigma do Capital: e a crises do capitalismo. Tradução: João Alexandre Peschanski. São Paulo: Boitempo, 2011. p. 206-207.

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